01/10/2011

Uma odisseia no Espaço

O tango dos guarda-chuvas enfeitava à tarde de quinta-feira, mochilas e bolsas disputavam espaço no corredor do “busão”, eis que, em um rápido relance em direção à catraca, tem-se a visão, da opulência humana, trajando calça de veludo marrom, sapatos espancados pelo tempo, e uma camiseta, do que talvez, tenha sido de alguma banda, do movimento Glam Rock.


Ele ofegava e seus olhos esbaforidos fitavam a operadora da catraca, que indiferente a seu sofrimento, ouvia, o último sucesso do momento em seu maravilho MP333.


A cena que se observava era digna de um filme mal roteirizado de bollywood. Contrariando qualquer confusão filmográfica do leitor, no que tange ao título deste texto. Foi então que o motorista adentrou o coletivo e num gesto intempestivo, jogou-se em seu posto de trabalho e em um solavanco, arrancou o ônibus. Rompendo o cordão umbilical, que mantinha nosso opulento personagem, junto à catraca.


Este por sua vez, despencou sobre alguns chapéus e guarda-chuvas que abancam-se em volta da menina do MP333, que por sinal, ao ver a cena da queda de Momo, esboçou um pequeno gesto esquio de olhar e voltou-se ao inexorável aparelho telefônico.


A cena descrita no parágrafo anterior, pode soar, com traços banais do cotidiano, e sim, faz sentido darmos de ombros a “anedota” anterior, que em todo o seu trajeto de ação, durou no máximo alguns segundos. Contudo ao analisar a cena de várias perspectivas, mesmo sendo, atribulado por bolsas, mochilas e casacos que aventuravam-se naquela direção.


Pondera-se:


A perspectiva do chapéu: sentado calmamente em sua poltrona calva, o chapéu, ao ser sacolejado pelo arranque do coletivo, jamais imaginou que o perigo viria pelas costas, foi quando um antebraço o atingiu, lançando-o sobre várias cabeças desavisadas, ele, por sua vez, abraçou-se aos sapatos que aceleravam o “latão”.


A perspectiva do guarda-chuva: todo serelepe e dançante há alguns minutos atrás, agora acomodava-se feliz aos braços de uma bela bolsa preta, adornada com vários detalhes, em prata, e um pindureco, da Betty Bopp.


Esse sem cerimônias ao receber o enfadonho golpe, jogou-se ao chão, protegendo-se entre botas, sapatos e tênis, mas sua tentativa torno-se obsoleta ao projetar-se entre as escadas, e ser atingido por uma bota maléfica, que lançava-se desesperada em socorro a aquela camisa glam.


A perspectiva opulenta: eclodindo em glândulas sudoríparas, ele agarrava-se à catraca, como, Chaves, ao governo da Venezuela, porém ao sentir o inesperado solavanco, sua vísceras deslocaram-se, dando lugar a um show de ondas corporais dignas da realização do Oakley surf pro 2011, e em sua visão, apenas o nefasto teto do coletivo afastava-se, cada vez mais.


Passado o susto, bolsas, casacos, mochilas e outros se empenhavam no resgate daquele cidadão, foi quando, uma bolsa, lançou-se ao chão, liberando um canal visual para os curiosos, do outro lado da catraca.


E então, a cena, desejo, de todo moleque que tem uma moeda em mãos estava ali exposta aos olhos, até mesmo o chapéu que levantava-se atordoado nas mão do motorista, pode ver. Mais a indagação pertinente a todos, naquele momento, era, quem depositou a moedinha?

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